quarta-feira, 29 de outubro de 2008
domingo, 19 de outubro de 2008
Acendeu um incenso de jasmim e o cheiro entrou-lhe pelos pulmões adentro, pela cabeça adentro. O cheiro era mais enjoativo do que da última vez. Chegava quase a dar dor de cabeça, estômago enrolado.
E funga e funga e pergunta porquê. Hábito nela. Hábito nos seres humanos. nada de especial. Especial, será quando deixar de haver interrogações e os olhos passem a comer tudo, sem saborear. Aí sim, será especial. Ou não, porque a palavra especial é especial. É bonita. E olhos que não comem, são olhos mortos e a morte não é uma coisa boa. É algo que nos captura a liberdade e nunca mais a devolve. É o que nos contam.
Pensava ela no que ele pensaria. Se aprovaria, se abanaria a cabeça muitas vezes em tom de desagrad. Se choraria por ela, de cada vez que a vía fazer uma asneira consciente. Se a amparava quando ela se sentia desalmadamente só. Ela acha que não. Que esta solidão tem sido dura. Que as bofetadas têm sido mais violentas do que chicote e começa a pensar que afinal está sola. Sola, sola sola. Piu sola, para aprener a desenvencilhar-se. Depois, olha para a televisão e vê os desgraçadinhos todos, os estrupiados, os mortos de fome, os doentes com cancro, os inválidos. Ou então conversa com as amgas, os colegas, a sra da padaria e ouve histórias muito mais triste que a dela, histórias de gente que acreditava ser dona do mundo, da sua própria vida e veio alguém e mostrou que não era bem assim.
Então ela pensa que afinal é uma pessoa cheia de sorte,que tem mais é que agradecer a vida calma que tem, que o dinheiro ainda vai chegando para carro e trapos e que tudo chegará na altura certa.
Que esse desamor que a cerca não é nada que ela não consiga descartar, que até já deixou de fumar há mais de dois anos e ganhou aversão doentia aos cigarros. Se assim foi, se até veio de lá, do outro lado do mundo, de coração e boca partidos, tudo o resto é peanuts.
E talvez seja mesmo.
Era uma vez...
Tenho uma irmã mais velha com quem não tenho muita proximidade. Nada o previria, já que temos apenas 3 anos e meio de diferença. Era suposto termos amigos comuns, histórias comuns, memórias comuns. Não as temos. Cortámos o laço que nos unia há já muitos anos. Cortámos? Cortaram, cortaste.
Esta irmã de que falo, enviou-me hoje um e-mail a informar-me de que tinha feito um blog. A princípio, li o assunto e não prestei muita atenção. Apenas o fiz, depois de jantada, televisão embrutecida vista e rabo espapaçado nesta cadeira. O blog, ao contrário do que eu pensava, não era sobre o dia-a-dia dela, histórias sobre os filhos, o marido, os doentes no hospital. Não era sequer sobre a bela ilha em que mora. Não era sobre as viagens que ela não fez, não era sobre os desejos que ela terá.
Este blog é sobre ele, Francisco. Francisco que no seu mês recebeu mais uma lembrança, ainda que tenham passado nove anos sobre o seu desaparecimento. Nove anos que não apagam o som da sua voz, ao contar-nos as histórias que a minha irmã tão fielmente transcreveu.
É engraçado que esta semana, em conversa com uma amiga, tenha comentado que, do que mais me lembro nas pessoas, é do toque. Que cheiros e vozes se desvanecem na minha memória, mesmo que faça um esforço tremendo para que isso não aconteça. É verdade que a voz de Francisco nunca desapareceu, nunca voou para esse lugar escuro onde estão tantas outras. É verdade que quase sei reproduzir momentos e situações.
É verdade que nos continuas a fazer muita, muita falta e que, por mais que eu pense que já não tenho mais lágrimas, elas continuam a rolar sem pedirem permissão, sempre que és evocado. Lágrimas de saudade, de tempo que nos faltou. Lágrimas de alegria por teres sido o nosso avô mais querido do Mundo.
Aqui fica o blog, para quem quiser espreitar: http://historiasdoavoxico.blogspot.com/
Esta irmã de que falo, enviou-me hoje um e-mail a informar-me de que tinha feito um blog. A princípio, li o assunto e não prestei muita atenção. Apenas o fiz, depois de jantada, televisão embrutecida vista e rabo espapaçado nesta cadeira. O blog, ao contrário do que eu pensava, não era sobre o dia-a-dia dela, histórias sobre os filhos, o marido, os doentes no hospital. Não era sequer sobre a bela ilha em que mora. Não era sobre as viagens que ela não fez, não era sobre os desejos que ela terá.
Este blog é sobre ele, Francisco. Francisco que no seu mês recebeu mais uma lembrança, ainda que tenham passado nove anos sobre o seu desaparecimento. Nove anos que não apagam o som da sua voz, ao contar-nos as histórias que a minha irmã tão fielmente transcreveu.
É engraçado que esta semana, em conversa com uma amiga, tenha comentado que, do que mais me lembro nas pessoas, é do toque. Que cheiros e vozes se desvanecem na minha memória, mesmo que faça um esforço tremendo para que isso não aconteça. É verdade que a voz de Francisco nunca desapareceu, nunca voou para esse lugar escuro onde estão tantas outras. É verdade que quase sei reproduzir momentos e situações.
É verdade que nos continuas a fazer muita, muita falta e que, por mais que eu pense que já não tenho mais lágrimas, elas continuam a rolar sem pedirem permissão, sempre que és evocado. Lágrimas de saudade, de tempo que nos faltou. Lágrimas de alegria por teres sido o nosso avô mais querido do Mundo.
Aqui fica o blog, para quem quiser espreitar: http://historiasdoavoxico.blogspot.com/
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Outubro, o teu mês.
Francisco, que hoje fazia 90 anos. Francisco que me ensinou, acima de tudo, a sonhar.
Espero que adormeças esta noite, lado a lado com ela. Ela que te enchia os olhos e a alma. Que adormeçam abraçados, que se respirem um ao outro, que se fundam.
Francisco que tanta falta nos fazes.
Que todos os amores sejam reais, como o que sempre nos deste.
Tanta saudade.
Espero que adormeças esta noite, lado a lado com ela. Ela que te enchia os olhos e a alma. Que adormeçam abraçados, que se respirem um ao outro, que se fundam.
Francisco que tanta falta nos fazes.
Que todos os amores sejam reais, como o que sempre nos deste.
Tanta saudade.
Yes, we're two drifters, off to see the world
Moon river, wider than a mile
I’m crossing you in style
some day
Oh, dream maker,
you heart breaker
Wherever you’re goin’,
i’m goin’ your way
Two drifters, off to see the world
There’s such a lot of world to see
We’re after the same rainbow’s end, waitin’ ’round the bend
My huckleberry friend, moon river, and me
I’m crossing you in style
some day
Oh, dream maker,
you heart breaker
Wherever you’re goin’,
i’m goin’ your way
Two drifters, off to see the world
There’s such a lot of world to see
We’re after the same rainbow’s end, waitin’ ’round the bend
My huckleberry friend, moon river, and me
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