domingo, 19 de outubro de 2008

Era uma vez...

Tenho uma irmã mais velha com quem não tenho muita proximidade. Nada o previria, já que temos apenas 3 anos e meio de diferença. Era suposto termos amigos comuns, histórias comuns, memórias comuns. Não as temos. Cortámos o laço que nos unia há já muitos anos. Cortámos? Cortaram, cortaste.

Esta irmã de que falo, enviou-me hoje um e-mail a informar-me de que tinha feito um blog. A princípio, li o assunto e não prestei muita atenção. Apenas o fiz, depois de jantada, televisão embrutecida vista e rabo espapaçado nesta cadeira. O blog, ao contrário do que eu pensava, não era sobre o dia-a-dia dela, histórias sobre os filhos, o marido, os doentes no hospital. Não era sequer sobre a bela ilha em que mora. Não era sobre as viagens que ela não fez, não era sobre os desejos que ela terá.

Este blog é sobre ele, Francisco. Francisco que no seu mês recebeu mais uma lembrança, ainda que tenham passado nove anos sobre o seu desaparecimento. Nove anos que não apagam o som da sua voz, ao contar-nos as histórias que a minha irmã tão fielmente transcreveu.

É engraçado que esta semana, em conversa com uma amiga, tenha comentado que, do que mais me lembro nas pessoas, é do toque. Que cheiros e vozes se desvanecem na minha memória, mesmo que faça um esforço tremendo para que isso não aconteça. É verdade que a voz de Francisco nunca desapareceu, nunca voou para esse lugar escuro onde estão tantas outras. É verdade que quase sei reproduzir momentos e situações.
É verdade que nos continuas a fazer muita, muita falta e que, por mais que eu pense que já não tenho mais lágrimas, elas continuam a rolar sem pedirem permissão, sempre que és evocado. Lágrimas de saudade, de tempo que nos faltou. Lágrimas de alegria por teres sido o nosso avô mais querido do Mundo.

Aqui fica o blog, para quem quiser espreitar: http://historiasdoavoxico.blogspot.com/

Sem comentários: