domingo, 27 de abril de 2008

Corro atrás


Ciclos viciosos são prejudiciais à saúde, quase tanto quanto um cigarro pela manhã, outro depois da refeição e um depois do coito. Ciclos viciosos são peganhentos e fazem-nos respirar com dificuldade. Ciclos viciosos são originados por falhas nossas, apenas falhas nossas, que advêm de alguma falta qualquer, normalmente de auto-estima.

Eu sou assim.

Sou assim. Não quero ser assim.

Há muitos dias atrás, eu peguei na minha vida com as duas mãos e carreguei-a para longe. Quando acordei, afinal tinha transportado, para além de mim e dos meus sonhos, tudo aquilo de que fugia. E não porque tivesse fantasmas a assolar-me a porta. Ou porque tivesse dependências por aqui... Ou porque alguém fosse atrás e me avisasse de que eu me lançara para o infinito sem rede. Apenas abri os olhos e vi que correra para os braços de uma vida que seria igual à que tinha deixado. Decidi então voltar às origens. Custou, custou. Foram meses de reintegração. Foram meses parecidos com os que os toxicodependentes passam, quando querem largar a sua força de vida. Custou-me muito. Sei-o, não porque ainda sinta qualquer tipo de réstia de dor, mas porque me lembro de ter emagrecido muito, de andar meio apática, de sorrir muito pouco, de me ter transformado num automato. De achar que o bom ainda lá estava e que o que aqui via, era incompleto e sem noção do real.
Depois passou... Ou foi passando. Mas sempre ficou.

Oitocentos dias. São imensos. Imensos. E os ciclos voltam e eu sou a responsável. Sou. Ou somos? Quem sou eu senão a construção que também alguns fizeram de mim? Quem sou eu? para onde vou e porque vou? Sei, no mínimo, que sou igual à maioria dos seres pensantes que se interrogam com dúvidas tão primárias como estas. E que dificuldade estúpida é esta de responder? Não seria o primário o começo de tudo e, por isso, o mais fácil de responder? Porque não nos ensinam estas respostas nas escolas PRIMÁRIAS, para que depois, nas secundárias e nas que se seguem, aprendamos coisas muito mais difíceis como a matemática aplicada, a filosofia kantiana, ou o cantonês?

Estou tão cansada. Tãoooo cansada de voltar. Tão cansada de me ter profissionalizado em recomeços. De não saber onde está a minha lagoa. De insistir em histórias inúteis, de desejar uma partida em que só eu acredito. Cansada de procurar e não achar. Cansada.

E ainda assim, continuo a rir e a fazer rir. Como se amanhã não tivesse que ir para onde não quero, como se os sapos não fossem demasiado grandes e vivos, como se as tuas mãos ainda soubessem de cor onde é o meu corpo, como se a maior preocupação fosse a de bronzear pernas e peito de uma forma homogénea, sem deixar manchas.

Vou e não volto.

5 comentários:

Psiquiatra Angustiado disse...

Enigmático. Voltarei a ler e tentarei à minha maneira interpretar as pontas deste novelo; talvez neles vislumbrar uma luz, como o cego que a sente e que sabe que ela ali está, que descobre a sua força mas sempre sem ser capaz de ver que ela verdadeiramente existe.

Bah disse...

Estava a lêr o seu :)

Como é que isto se mete a assinalar que os outros publicaram??

Psiquiatra Angustiado disse...

Olá, Bah! Há por aí uns programas e/ou uns sítios que permitem saber o que foi publicado nos blogues que gostamos de ler (até mesmo em jornais e outro tipo de publicações em linha).

Chamam-se "leitores de feeds", basta fazer uma pesquisa, correr atrás!

Bah disse...

Eu sou uma parola dos blogs ahahha... Não entendo nadaaaaaaaaaa disto :)

Psiquiatra Angustiado disse...

Todos nós temos os nossos ócios intelectuais. O que interessa é que estejamos sempre prontos para aprender qualquer coisa. Correr atrás!