segunda-feira, 10 de março de 2008

Eu não tenho mestre


Acabei de chegar de um briefing sobre uma empresa que vende os modos de vida saudáveis e, tal como se pretende em pleno séc XXI, passam por corpo e mente. Aprendi algumas coisas, relembrei outras, absorvi o que pude.

Lembrei-me, pq falámos em Ayurveda, que tive um N.F. na minha vida, que me ensinou o que isso era. Dei por mim, em plena conferência, a ver-me deitada no chão de uma casinha na Bahia, a ser massajada por umas mãos que não eram as mais experientes, mas eram as que eu achava serem as do homem que me acompanharia por toda a vida. Ainda hoje se fechar os olhos, sinto a areia do chão de cimento (concreto em "brasileiro"), vejo as formigas a roçarem a minha cara, ouço a gargalhada dele a gozar com os seus próprios pés que, ao contrário do resto do corpo, estavam a ganhar rugas...
Passaram mais de 2 anos desde então, mas continua a ser uma das mais marcantes experiências que vivi e que ainda sinto como se estivesse apenas a meses de distância. Hoje sei que não a trocaria por outra mais leve. Tudo o que dela adveio, foi absurdamente intenso. Tornei-me uma pessoa diferente, não em essência, mas em resistência. Cedi e quebrei e aprendi que o meu corpo tem limites.

A empresa que veio apresentar o briefing tem sede em Oeiras.
Linha, linha, linha... A linha do Estoril tem marcado a minha vida desde que me lembro de existir. Não sou fã da arrogância primária e bairrista que existe naquela zona da grande Lisboa, mas sou fã de outras coisas, como os (lá está) modos de vida saudáveis. Sou fã das praias. Sou fã dos calçadões. Sou fã...

É na Linha que está o epicentro daquilo a que, neste momento, eu chamo de maior incoerência na minha vida. É na Linha que mora.
Era à Linha que eu ía fundir sentimentos, pensamentos. Não foi na Linha que começou, mas foi na Linha que acabou. Foi a Linha quem testemunhou o bom e o mau, que bebeu os litros de gasolina que o meu carro fez durante meses. Foi para o ar da Linha que se evaporaram todas as gotas de verdade e mentira.

Hoje foi noite de pontos finais. O surreal da questão foi que, enquanto discutia com um a sua falta de atenção e desamor, recebia mensagens de outro, pedindo-me para estarmos juntos. Kafkiano um e outro terem-se revezado na minha vida ao longo destes anos, sem ambos saberem ou até sem eu própria me aperceber... Um substituiu o outro, que depois foi substituido pelo primeiro e tudo resultou numa enorme salada portuguesa, com sabor a pedras de calçada e calçadões improvisados... E tudo foi acabar em Lisboa, numa banheira que nunca albergou nenhum, que é apenas minha. Paradoxal, aquele que pede para não me vêr ser solteiro e, o que me exige presença, ser casado.

Nunca mais me voltes a dizer que faço jogos. Estou tão cansada de ser eu e mais eu... Estou tão cansada de não os fazer e não ser como a história do mestre e do discipulo, em que um ensina ao outro a arte da paciência, do saber esperar. EU NÃO SEI. EU NÃO SEI. EU SEI QUE QUANDO ESPERO MUITO , AS COISAS NÃO ME VÊM.
ESTOU TÃO CANSADA.

Quase fora de mim.

Desiludida, sem razão aparente, desiludida, caminhando para um lugar que desconheço. Esperando que o tempo passe e que quando chegar ao seu final, eu seja uma pessoa mais rica para poder fazer disso uma mais valia e não depender de ninguém. Já dizia o Palma, a dependência é uma besta e dá cabo do desejo...

Não volto a cuspir para o ar e a afirmar nada com veemência. É quando a vida me prega mais rasteiras.

A única coisa que agora sei é que já passei por isto antes e é preciso saber caminhar. Que cada passo que der, é percurso a menos para a luz. Que a falta vai sendo desvanecida com os pés. Que a memória um dia se apaga e tudo passa a ser relativamente pequeno e de fácil análise.

Custa-me tanto tirar-te e perceber que não te vou vêr caminhar.


2008

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